Mas quais seriam as possíveis soluções diante deste cenário? Glaucio Neves Fernandez, engenheiro de Produção (UFF), com pós-graduação em Gerência de Projetos (FGV-RJ) e MBA Executivo (Coppead/UFRJ), é Diretor Associado da Macroplan e responde a essa e outras questões na entrevista:
Macroplan: Dentro deste contexto de dificuldades e restrições crescentes, quais seriam as soluções possíveis, considerando a pouca margem de manobra e o espaço de expansão financeira restrita?
Glaucio Neves: Uma resposta adequada para este cenário seria a elaboração de uma agenda, de cunho gerencial, que deve possuir quatro itens: (I) garantir o foco na execução das ações estratégicas prioritárias, evitando dispersão de energia e recursos; (II) agir com método e disciplina para evitar o improviso e o voluntarismo; (III) assegurar a coesão gerencial do núcleo estratégico do governo; e (IV) atuar politicamente na dosagem das expectativas da população.
A primeira delas, que é a definição das prioridades estratégicas, precisa ser formulada de forma dual para ser efetiva, com medidas de curto prazo orientadas para a superação de problemas emergenciais do ponto de vista da sociedade, como a redução de gastos desnecessários mais evidentes ou a melhoria de um serviço público essencial. E medidas mais estruturantes, com resultados de médio e longo prazos, como a melhoria do ambiente de negócios, por exemplo. O segundo item refere-se ao método de trabalho e à disciplina de execução para evitar o improviso e o voluntarismo. No Brasil, é predominante a baixa capacidade de execução de projetos, determinada, na maioria das vezes, pela má qualidade na formulação de projetos ou mesmo na execução de projetos de alto custo e baixo ou negativo retorno social.
Macroplan: O que podemos notar é que a maioria dos problemas enfrentados hoje é de natureza gerencial. Qual o perfil de liderança necessário para enfrentar esse cenário?
Glaucio Neves: Tão importante quanto o método e a disciplina de execução é a coesão gerencial para a ação, que só é possível quando existe liderança firme, capaz de reger a ?orquestra? e conduzir as mediações internas e externas ao governo, necessárias em momentos de maior pressão. O papel medular do líder principal, em especial em momentos de crise, é conduzir as decisões e ações com firmeza e serenidade, antecipando-se e comunicando as medidas mais difíceis para infundir confiança no corpo técnico do governo e na sociedade. A dispersão e a sobreposição de esforços conduzem à improdutividade, à ineficiência e mina a motivação das pessoas.
Macroplan: Como abandonar esse velho ?modo? gerencial e enfrentar as medidas que precisam ser adotadas para sair desse quadro de crise?
Glaucio Neves: Para isso, é primordial administrar as expectativas externas e obter apoio da sociedade. Não basta prestar contas. É indispensável manter uma comunicação efetiva com os diferentes segmentos da sociedade, utilizando as modernas tecnologias de comunicação para compartilhar os problemas e buscar de forma colaborativa a solução. Dosar a expectativa das pessoas em relação ao papel do governo e à sua capacidade de entrega será um dos principais papéis dos líderes públicos daqui para frente. Portanto, é preciso agir rápido e voltar aos fundamentos da boa administração, sem deixar de lado a política. É importante, sim, fazer dela um instrumento de mediação de conflitos para superar as barreiras e viabilizar as entregas que realmente importam para a sociedade.
Glaucio Neves Fernandez é autor do artigo ?O resgate dos fundamentos da boa Administração?, no qual aprofunda a análise sobre os desafios e aponta soluções para a crise financeira em municípios e Estados. O artigo está disponível para consulta e download aqui.