Ao lado da orla repaginada com pavimentação colorida e esculturas do artista local Gilmar Pinna, os dois edifícios são os sinais mais visíveis da bonança vivida pela cidade desde o início da produção do campo petrolífero de Sapinhoá, na bacia de Santos, em 2013.
Também são um sinal de alerta. O município pode estar repetindo erros já cometidos por outras cidades no litoral norte fluminense, os primeiros novos-ricos do petróleo do país, que sofrem hoje com a queda nas cotações internacionais do barril.
Ilhabela é a principal beneficiada pela arrecadação de royalties e arrecadações especiais do petróleo em São Paulo. No primeiro semestre, recebeu R$ 221,6 milhões, mais de cinco vezes o que ganhou a vizinha São Sebastião.
Entre 2012 e 2016, a receita do município cresceu 94%, já descontada a inflação -em 2016, foi a quarta cidade com maior receita per capita do país, com R$ 12.812 por habitante. Para este ano, a previsão de receita é de R$ 468 milhões, 11% a mais do que o realizado no ano anterior.
Os edifícios foram projetados para abrigarem um teatro e centro de convenções, mais um centro de educação em tempo integral. O primeiro foi embargado porque não respeita o código de posturas do município. O segundo, por danos ambientais.
Um terceiro projeto paralisado é o Aquabus, sistema de transporte aquaviário entre os dois extremos da ilha. Compradas por R$ 1,46 milhão cada uma, as três embarcações do projeto estão paradas sem uso em uma marina da vizinha Caraguatatuba.
Prédios faraônicos e gastos com urbanização também foram comuns nas prefeituras do Rio durante a bonança. Assim como elevados gastos na contratação de artistas para shows gratuitos -em 2017, Ilhabela gastou mais de R$ 6 milhões para shows e patrocínios a eventos.
Em estudo sobre o tema, divulgado em 2012, a consultoria Macroplan identificou que as prefeituras beneficiadas por royalties experimentaram crescimento desordenado, pressão por serviços públicos e não investiram em políticas para um desenvolvimento sustentável.
“O maior erro de prefeituras com royalties é transformar uma riqueza temporária em custos permanentes, que depois terão dificuldade de cortar”, diz o presidente da consultoria, Claudio Porto.
Um dos principais problemas detectados na pesquisa, diz ele, é o crescimento das despesas de custeio. Em Ilhabela, os gastos com pessoal cresceram 77% entre 2015 e a previsão para 2017, que é de R$ 143,9 milhões.
“A prefeitura acelerou as obras na orla e deixou a desejar nos bairros”, analisa a vereadora Salete Salvanimais (PSB), que compõe um bloco de oposição à gestão do prefeito Márcio Tenório (PMDB).
Salete alerta para o risco de que o dinheiro do petróleo acelere o processo de crescimento desordenado da cidade, que tem 18 pontos de favelização detectados e apenas 40% das residências com saneamento básico.
A diarista Maria de Lurdes Jesus dos Santos, 37, vive num desses pontos, no bairro de Itaquanduba. Ela e os dois filhos, de 3 e 9 anos, moram em frente a um córrego onde corre esgoto a céu aberto.
“Em dias de muito calor, faz um mal danado para as crianças”, diz a trabalhadora.
Tenório diz que saneamento e regularização fundiária são prioridades e terão um orçamento de R$ 40 milhões por ano. A meta é universalizar o serviço de água e esgoto em quatro anos.
“As obras paradas são o maior desafio desse meu início de governo”, disse à Folha. A prefeitura está refazendo os projetos em busca de aval para concluir as obras.
O peemedebista justifica os gastos com shows e eventos como investimento para atrair turistas para o município