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Cenários da Macroplan apontam crescimento fraco e ambiente desfavorável aos negócios no médio e longo prazos

4 de outubro de 2018

Do Correio Braziliense

Instabilidade econômica leva empresas estrangeiras a deixarem o Brasil.

Companhias com marcas consagradas em todo o mundo, como Fnac, Lush e Nikon não conseguem viabilizar operações no Brasil. Causas são cenário político conturbado, crescimento fraco, sistema tributário complexo e ambiente desfavorável aos negócios

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou ontem que, em 2016, o número de empresas existentes no país caiu pelo terceiro ano consecutivo. O total diminuiu 1,6% no ano, o que correspondeu a 70,8 mil companhias a menos. De lá para cá, mesmo com a melhora da economia, várias companhias nacionais e estrangeiras fecharam fábricas e encerram as atividades no Brasil. As incertezas políticas, o sistema tributário complexo e o ambiente de negócios desfavorável ao empreendimento são fatores decisivos para as decisões drásticas. Segundo especialistas, o país se recupera da recessão, mas num ritmo fraco, o que não dá segurança para os negócios. Ainda de acordo com o IBGE, somente 38% dos empreendimentos que haviam nascido em 2011 ainda estavam ativos cinco anos depois.

O grupo Priority, que é dono das marcas de calçados West Coast e Cravo&Canela, anunciou, no mês passado, o fechamento de uma fábrica em Sobradinho, no Rio Grande do Sul. “A decisão foi tomada com base no atual ambiente de incertezas políticas e econômicas que afetam o desempenho do setor varejista”, informou nota divulgada pela companhia. Várias outras marcas de calçados também encerraram as atividades.
Devido aos altos custos, carga tributária elevada e insegurança econômica, a Locomotiva, empresa que fabrica laminados, filmes de PVC e lonas para caminhões, fechou as portas da fábrica em Pouso Alegre (MG). A unidade funcionava havia 19 anos e tinha 200 funcionários. Em agosto de 2017, a L’Oréal Brasil anunciou que, até o fim do ano, fechará a fábrica na Pavuna, na zona norte do Rio de Janeiro. A companhia explicou que precisa adequar as operações ao ambiente econômico adverso.
De acordo com Mauro Rochlin, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), enquanto não houver um cenário definido para os próximos anos, as incertezas devem perdurar. “Todo esse movimento de baixa nos investimentos reflete o desânimo dos empresários. O país tem uma taxa de investimento de 16% do Produto Interno Bruto (segundo o IBGE), que é horrorosa, comparada com o nosso passado e com outros países. Não há garantia de que serão feitas as reformas econômicas. As empresas querem um governo adimplente e, enquanto isso não estiver claro, adia investimentos”, disse.
Levantamento mensal da FGV mostrou que o Índice de Confiança Empresarial (ICE) — que leva em consideração empreendedores de indústria, serviços, comércio e construção — ficou em 89,5 pontos em setembro, em uma escala que vai até 200. A taxa caiu pelo sexto mês consecutivo. A percepção dos empresários é a de que tanto o cenário atual quanto as perspectivas futuras estão piores.
Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o saldo entre abertura e fechamento de estabelecimentos comerciais, que havia ficado praticamente zerado na segunda metade do ano passado — com criação de 218 unidades —, voltou a crescer entre janeiro e junho de 2018, ao contabilizar um incremento de 2.252 lojas. Apesar disso, a CNC apontou que o ritmo de expansão é “frustrante”. “Tão frustrante quanto a percepção de desaceleração no ritmo da atividade econômica”, apontou.
Debandada
Accessorize, Fnac, Kirin, Lush e Nikon. Todas essas empresas internacionais tomaram a decisão de encerrar as atividades no Brasil. A debandada decorre de alguns fatores particulares de mercado, mas também das incertezas que envolvem o país. Um dos casos mais curiosos é o da loja de cosmético inglesa Lush, que saiu do Brasil depois da segunda tentativa de viabilizar o negócio. A companhia já havia deixado o país em 2005, mas tinha voltado em 2014. Em comunicado, a Lush destacou que, apesar do aumento das vendas, a alta carga tributária, a prolongada recessão econômica e a instabilidade política tornaram “impossível” o investimento no país.
No ano passado, a cervejaria japonesa Kirin foi vendida no Brasil após se tornar a primeira filial do grupo a causar prejuízos na história. O grupo varejista Walmart, dos Estados Unidos, passou 80% de sua operação ao fundo de investimento Advent International, ficando apenas com 20%. É a terceira maior companhia no Brasil, com faturamento de R$ 28,187 bilhões em 2017. A gigante de livros e eletrônicos francesa Fnac, que estava no país desde 1998, tinha 12 lojas em sete estados. Em 2017, vendeu o direito de uso à Livraria Cultura. Hoje, há apenas um estabelecimento, em Goiânia.
O mais recente anúncio foi o da gigante japonesa de equipamentos fotográficos Nikon. Em setembro, a empresa informou que está de saída do Brasil, mas não explicitou os motivos. Há uma mescla de falta de clareza no cenário econômico com a redução do mercado de máquinas fotográficas, dada a crescente oferta de smartphones. O Campari Group, fabricante de bebidas de origem italiana, anunciou o fechamento de sua fábrica em Sorocaba, no interior de São Paulo, para adequar suas operações à realidade do mercado. A sorveteria Häagen-Dazs não tem mais lojas próprias no Brasil.
O economista e presidente da Macroplan, Cláudio Porto, ressaltou que faltam demanda e perspectivas positivas. De acordo com ele, a saída de empresas do Brasil é um fenômeno triste, mas não surpreendente. “Isso me preocupa, porque, em momentos de adversidade, as empresas diminuem o volume e o tamanho, mas mantêm os ativos. Algumas estão se mandando. Isso significa que, a médio e longo prazos, as companhias não veem que vale a pena dar continuidade ao negócio”, ressaltou.