Do Correio Braziliense – Hamilton Ferrari
Crise política é apontada como um dos fatores para PIB enfraquecido
Ritmo fraco da economia decepciona e aumenta dificuldades do governo Bolsonaro. Dados setoriais reforçam indicações de queda da produção no primeiro trimestre, o que não acontece desde o fim de 2016, quando o país vivia forte recessão.
Além da crise política na relação com o Congresso, e até por causa dela, o governo de Jair Bolsonaro enfrenta, na economia, um de seus maiores desafios. A atividade econômica está em franca desaceleração, o que deve manter — ou mesmo agravar — a difícil situação financeira das famílias. Analistas do mercado financeiro estão reduzindo as estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, que deve ficar em 1%, ou abaixo disso. Com a falta de fôlego da economia, o consumo e os investimentos devem permanecer baixos, e a oferta de empregos continuará fraca.
A estagnação da economia é um entrave que reduz a força política da atual gestão. No começo do ano, economistas projetavam crescimento de 2,5% do PIB em 2019. Passados menos de cinco meses do novo governo, analistas avaliam que não há mais chance de isso se concretizar. O presidente da Macroplan, Claudio Porto, diz que tem conversado com agentes do mercado e empresários com capacidade de investimento. Para ele, o sentimento geral é de “grande frustração”.
“Talvez houvesse um otimismo excessivo após as eleições e, certamente, um entusiasmo de parte dos investidores com a agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes. A agenda está evoluindo, mas numa velocidade muitíssimo aquém das expectativas dos agentes e das possibilidades reais, por conta de problemas que foram criados dentro do próprio governo”, destaca Porto.
De janeiro a março, a indústria tombou 2,2% em relação ao 4º trimestre de 2018. No mesmo período de comparação, o setor de serviços recuou 1,7% e o comércio avançou apenas 0,3%. O fraco desempenho dos índices setoriais antecipa uma provável retração da economia no primeiro trimestre. A taxa oficial do PIB será divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no fim de maio, mas analistas já trabalham com um cenário de retração, que vem sendo apontado por outros indicadores.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB, recuou 0,68% nos três primeiros meses do ano. Nos cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), o PIB teve queda de 0,1% no primeiro trimestre. Confirmado o declínio, será a primeira vez, desde o quarto trimestre de 2016, que a economia do país terá registrado índice negativo.
A paralisia econômica já se refletiu nos índices de confiança dos consumidores e dos empresários (confira o gráfico ao lado). Os indicadores voltaram a níveis semelhantes aos do período pré-eleitoral, quando havia grande incerteza diante da polarização política vivida pelo país.
O governo definiu a reforma da Previdência como item prioritário da agenda, porque ela poderá permitir o ajuste das contas públicas, considerado essencial para a retomada da economia. O país registra rombo orçamentário desde 2014, o que tem provocado o aumento da dívida pública. Em consequência do longo período no vermelho, o governo perdeu a capacidade de realizar investimentos que poderiam estimular a atividade econômica. No entanto, a reforma tramita com dificuldade. Com a falta de previsibilidade, os empresários se mantêm cautelosos e não tiram da gaveta projetos de ampliação da produção.
Claudio Porto afirma que, por ser um governo de “descontinuidade” em relação às políticas econômicas adotadas no passado, a atual gestão prometia grandes mudanças. No entanto, avalia, a “dona realidade” se impôs e estabeleceu um ritmo de recuperação menos acelerado do que se anunciava.
O economista Alex Agostini, analista da Austin Rating, explica que, além da baixa velocidade nas mudanças na economia, o Brasil tem sofrido com o cenário internacional adverso e com o aumento da inflação. “O contexto global está mais desafiador e o governo demonstrou, infelizmente, ausência ou baixo nível na articulação com o Congresso. Isso atrapalhou muito o cronograma da reforma da Previdência e tudo isso vai, naturalmente, adiando as expectativas”, destaca. “E os índices de preços também subiram, pressionado por alimentos e combustíveis, o que limitou o consumo”, completa.
De acordo com o especialista, dificilmente o país vai conseguir reverter o crescimento fraco em 2019, já que o ano está se aproximando da metade e ainda não há um consenso para a aprovação da reforma do sistema previdenciário. Em 2018, o PIB avançou apenas 1,1%, assim como no ano anterior. Agostini acredita que, em 2019, a economia brasileira crescerá 1%. “Mas, com o dólar em alta, e os preços dos combustíveis em elevação, há o risco de nova greve dos caminhoneiros, o que prejudicaria ainda mais a atividade e derrubaria de vez o PIB”, ressalta.
Luana Miranda, pesquisadora da área de Economia Aplicada da FGV, afirma que, apesar de prever um PIB maior do que em 2018, há muitos riscos que podem diminuir a atividade econômica neste ano. “Não conseguimos visualizar que 2019 será mais fraco que em 2018 no cenário-base, mas os riscos futuros impõem um viés de baixa. Se esses riscos se concretizarem, teremos um desempenho pior do que o esperado”, frisa.