Claudio Porto (org.), Elimar Nascimento, Enéas Aguiar, Rodrigo Ventura e Sérgio C. Buarque
Apresentação
Há mais de 20 anos profissionais hoje ligados à Macroplan trabalham com cenários. No começo, era o tempo da ‘abertura política’, e a incerteza crítica quanto ao futuro do país dizia respeito à extensão e ao timing da redemocratização.
Desde então fizemos sucessivos estudos e análises de cenários, tendo como pano de fundo as sucessivas descontinuidades na trajetória do país: a eleição e morte de Tancredo Neves; o Plano Cruzado e a hiperinflação no Governo Sarney; a eleição de Fernando Collor, seu ‘confisco’ às poupanças, o começo da abertura da economia brasileira e sua queda por corrupção sistêmica; o Plano Real, a eleição e reeleição de Fernando Henrique Cardoso, a acidentada desvalorização da nossa moeda em 1999 e a crise energética; e, mais recentemente, a chegada da esquerda ao poder com a eleição de Lula Presidente da República.
Durante esse período, mapeamos diversos cenários alternativos de longo prazo para o Brasil, antecipando tendências e fenômenos com um grau de acerto bastante razoável. E, desde 1999, traçamos cenários nacionais de curto e médio prazos, os quais são objeto de acompanhamento sistemático.
Nesta curta apresentação, antes de focalizar os cenários do Brasil para os próximos 3 anos, é oportuno fazer um breve balanço de nosso trabalho anterior, também amplamente divulgado.
Balanço sumário dos Cinco Cenários para o Brasil 2001-2003
Um de nossos trabalhos recentes, que merece um destaque especial, foi publicado como livro: ‘Cinco Cenários para o Brasil: 2001-2003′ [1]. Tais cenários foram desenvolvidos tendo por base duas incertezas críticas: (i) como evoluiria o contexto internacional no que interessava ao Brasil; (ii) quem venceria as eleições de 2002 e como seria seu primeiro ano de governo.
Nesse sentido, foram desenvolvidos 5 cenários alternativos – ‘O Vôo da Fênix’, ‘Nas Asas do Tuiuiú’, ‘Seguindo as Arribaçãs’, ‘Do Jeito do Caramujo’ e ‘A Síndrome da Vaca Louca’. Hoje, olhando para trás, constatamos que uma série de fatos relevantes foram antecipados fortemente no Cenário 3 – ‘Seguindo as Arribaçãs’ que antecipava, justamente, a vitória de Lula.
Neste cenário [2], o Brasil enfrentava um contexto internacional desfavorável, dificuldades internas de natureza política, crise energética, instabilidade econômica e insatisfação social, isto tudo conduzindo a uma vitória da oposição nas eleições presidenciais O cenário antecipou, entre outros, os seguintes fenômenos ou acontecimentos:
- rachadura na base de sustentação do governo FHC;
- anúncio, por lideranças oposicionistas, de um programa de compromissos fundamentais com a estabilidade econômica e o pagamento das dívidas (a ‘Carta aos Brasileiros’ lançada pelo então candidato Lula em maio de 2002);
- manutenção da política econômica;
- revisão na política externa, que ganharia conotação mais nacionalista e “terceiro mundista”, e implicaria em reavaliação tanto da inserção do Brasil no Mercosul e Alca quanto no estilo diplomático;
- suspensão das privatizações;
- revisão modelo para o setor elétrico;
- lançamento de programas emergenciais de combate à pobreza absoluta (que veio a ser o “Fome Zero”) e de geração de empregos (que se tornou o programa “Meu Primeiro Emprego”)
É claro que várias expectativas enunciadas no cenário ‘Arribaçãs’ não se concretizaram. Por exemplo: a extensão da crise energética, que se resolveu de maneira menos traumática do que esperado, sobretudo graças ao apoio da sociedade; o superávit comercial efetivamente observado que superou largamente o estimado pelo cenário; e a independência do Banco Central que não foi aprovada, como se supunha.
No contexto internacional, o livro ‘Cinco Cenários para o Brasil: 2001-2003’ antecipou alguns desdobramentos dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 que foram confirmados. Dentre eles, destacam-se o aumento das tensões e da insegurança em escala mundial; a ampliação do conservadorismo; a eclosão de ações de guerra (Afeganistão, Iraque) com total envolvimento americano; as restrições a liberdades e direitos civis nos EUA; o fortalecimento do poder de Bush; e a redução do investimento externo direto no Brasil. Por outro lado, não de confirmaram a perda de riqueza decorrente da propagação dos prejuízos decorrentes dos atentados e não se verificou também a desaceleração da economia norte-americana antecipada no estudo.
De fato, este balanço também tem por objetivo lembrar que os cenários não eliminam as incertezas, pois isto é impossível. O máximo que bons cenários conseguem é organizar e reduzir as incertezas a um conjunto restrito de alternativas mais prováveis.
[1] Porto, Claudio; Nascimento, Elimar & Sérgio Buarque (2001). ‘Cinco Cenários para o Brasil: 2001-2003’. Editora Nórdica, Rio de Janeiro. [2] Op. cit p. 85-96
*O livro encontra-se disponível para compra nas maiores livrarias e-commerce do país.