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“Cidade Canção”, Maringá quer ser líder em estilo de vida

7 de agosto de 2017
No ano passado, quando seu primeiro filhos tinha poucos meses de vida, o assessor de investimentos paulistano Rodrigo Zauner, 30 anos, descobriu uma frustração: a de nunca conseguir encontrar o bebê acordado. Morando na capital paulista em meio à rotina apertada do mercado financeiro, o engenheiro mecânico formado pelo instituto Tecnológicos de Aeronáutica (ITA) chegava em casa, na maior parte das vezes, depois das 22h.

“Acordava às 5h30 para conseguir uma vaga para estacionar perto da corretora ou ir à academia. Passava o dia inteiro fora e chegava quando o Lucca á estava dormindo”, diz. Em busca de mais tempo livre com a família e qualidade de vida, Zauner foi para Maringá, cidade com 403 mil habitantes no noroeste do Paraná e um dos mais ricos municípios do Estado.

Até o ano passado, quando se mudou para lá, as referências maringaenses do assessor de investimentos restringiam-se à relação cordial que mantinha, a distância, com os colegas da sucursal de seu escritório. Não havia razão profissional para a mudança: grande parte dos clientes de Zauner está em São Paulo, bem como seus pais e sogros, o que impões à família um vaivém constante. “A cada três semanas em Maringá, viajo e fico uma semana em São Paulo”, diz

A mulher, Tahiane, o acompanha sempres nas viagens e eles dizem que o deslocamento vale a pena. “Hoje saio do escritório às 18h. Consigo ver meu filho acordado, dar banho, jantar com ele. A qualidade do meu fim de dia mudou bastante”, comemora Zauner, que ainda acorda bem cedo: gosta de cacaminhada de uma hora diária para chegar ao serviço. No escritório, diz ele, os maringaenses já são minoria. “Tenho colegas de Osasco e Campo Grande”. A familia já cogita não voltar mais para São Paulo. “Maringá é mais tranquila, mais segura. E em 15 minutos se está em qualquer lugar”.

As vantagens da rotina de Maringá ajudam também as empresas que buscam profissionais de fora. Um exemplo é o site da DB1 Global Software, empresa de tecnologia fundada na cidade em 2000 e que emprega 250 funcionários. Um anúncio no site da DB1, que apresenta as vagas disponíveis na empresa, afirma que “90% dos colaboradores levam menos de 30 minutos para chegar ao trabalho”. Também conta que “17 parques estão distribuídos pela cidade, ideais para aquela corrida no fim da tarde”.

A empresa também dá destaque ao custo de vida em comparação às capitais. “O aluguel médio em Maringá ( centro) varia de R$700 a R$1.400. A marmita é entregue diretamente na empresa , o custo médio é R$10. Você também pode ir para casa almoçar com sua família, descansar um pouco e voltar à tarde”, promete o anúncio.

Ilson Rezende, CEO e fundador da empresa, é um fã do estilo de vida maringaense. Filho de agricultores que tentaram sem sucessoa vida  em São Paulo, após a grande geada de 1975, que dizimou as lavouras de café do Paraná, passou seis anos longe da cidade, após se formar em processamento de dados na Universidade Estadual de Maringá. “Voltei pela possibilidade de empreender e ter este estilo de vida”, diz. “O maringaense é muito apaixonado por Maringá. Estamos criando um termo aqui, o ‘maringaísmo’ que contagia a gente”, diz.

Maringá completou 70 anos em 2017 ostentando bons resultados quando comparada às 100 maiores cidades do Brasil: 1º lugar no ranking geral de melhor gestão do dinheiro público, 8º melhor índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb),  2º em infraestrutura e sustentabilidade e 5º em serviços de saúde, segundo ranking elaborado pela consultoria Macroplan com base em dados de 2015.

“Maringá é uma cidade diferenciada”, diz o prefeito Ulisses Maia (PDT) que, em meio à recessão econômico e às restrições fiscais que atingem o caixa dos municípios, é raro caso de prefeito que vê dinheiro “sobrando”? no orçamento. “Maringá reflete a força da agricultura da região noroeste do Paraná, que não tem tido crise nos últimos anos”, diz. “Alguns dos maiores pecuaristas do país moram aqui e investem na cidade”, afirma o prefeito. Dos R$1,4 bilhão previstos para 2017, ele prevê menos de R$200 milhões em investimentos. O gasto em saúde, estimado em R$395 milhões, é considerado ‘exagerado’ por Maia para as necessidades da cidade, já que 40% da população tem plano de saúde e não depende do serviço público. “Poucas cidades têm isso. O pagamento de pessoal compromete o orçamento da maior parte delas”, diz.

O aniversário de Maringá, celebrado em 10 de maio , refere-se à data , em 1947, de início de venda dos lotes de um gigantesco empreendimento imobiliário da empresas britânica  Companhia de Terras Norte do Paraná, que está na origem do município. Dez anos antes, a companhia havia fundado  a vizinha Londrina, que fica a 100 km de Maringá e tem 553 habitantes.

“Geralmente as cidades comemoram a data em que foram emancipaqdos politicamente. Celebramos a venda de lotes”, explica o diretor do Instituto Cultural Ingá e especialista na história da cidade, Miguel Fernando. Outra curiosidade, segundo conta a história local, é que o principal cartão-postal de Maringá, a catedral Nossa Senhora da Glória, teve inspiração soviética: o desenho teria sido sugestão de dom Jaime Luiz Coelho, primeiro bispoi da cidade, que encomendou a um arquiteto uma igreja parecida com a nave soviética Sputnik 2, lançada em 1957.

O nome da cidades – assim como a alcunha de ‘Cidade Canção’, referência entre moradores e empresas da tregião – se deve à famosa “Maringá”, composição do mineiro Joubert de Carvalho que fala das belezas de uma retirantes de olhos verdes , que fugiu da seca e deixou saudades. Sucesso nos anos 30, era muito cantarolada na região pelos machadeiros – trbalhadoreds que derrubavam a mata para abrir espaço às lavouras.

Diferentemente da ‘irmã’ Londrina, repartida e vendida em grandes latifúndios, os ‘maringaístas’ destacam que os lotes vendidos em Maringá eram pequenos, o que, para muitos, deu origem ao espírito cooperativista da cidade, representado hoje em empresas como a Cocamar, que tem sede na cidade é é uma das maiores cooperativas agropecuárias do país, a Siscoob, sistema cooperativo de crédito, que, na prática, funciona como um banco dedicado a financiar negócios na região.

“Quando eu morava na roça, notava que quando um terminava a colheita, ia ajudar o outro. Ninguém tinha funcionários”, diz Rezende, o dono da DB1, que é também presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá ( Codem).