A nova crise política e as incertezas na economia devem atrasar investimentos e as obras de infraestrutura por mais dois anos. Para especialistas, esses fatores, somados ao histórico de corrupção, atraso e sobrepreço nos grandes empreendimentos, afastam o interesse de potenciais investidores em novos projetos e concessões, necessários para o desenvolvimento do Brasil.
Antes da turbulência causada pela delação dos controladores da JBS, o governo federal lançou um pacote de concessões com a previsão de investimentos de R$ 45 bilhões. Alguns projetos, como quatro aeroportos, a distribuidora de energia de Goiás Celg-D e 31 linhas de transmissão, foram leiloados antes da nova crise. Agora, o cenário é diferente.
Para Fernando Marcondes, advogado especialista em infraestrutura do escritório L.O. Baptista, o momento é de extrema incerteza. “O primeiro impacto é um atraso na retomada dos investimentos em infraestrutura em, pelo menos, dois anos”, afirmou.
Presente a um evento em Nova York voltado para investidores estrangeiros, Marcondes revelou que a conversa tomava um rumo extremamente positivo. “Os investidores estavam animados sobre as reformas. Chegaram a dizer que tinham voltado a olhar para o Brasil porque Michel Temer estava conseguindo alguma estabilidade”, contou. “Isso foi dois dias antes da delação da JBS. Depois, a instabilidade voltou. Está tudo estagnado outra vez”, acrescentou.
Além do atraso em novos investimentos, as obras em andamento demoram muito mais do que o previsto, o que aumenta o Custo Brasil por conta da precariedade da infraestrutura nacional. “O impacto da corrupção é gigantesco. O histórico de grandes obras não é animador. Há sobrepreço. Os projetos sempre acabam custando muito mais. Ficam prontos muito tempo depois do prazo. É uma característica da natureza das obras. E a corrupção torna tudo ainda mais lento”, destacou. Para o especialista, agora é hora de esperar o contexto político.
Na opinião de Claudio Porto, presidente da Macroplan, a curto prazo a crise política tende a atrasar o ritmo das obras. “Num primeiro momento, a corrupção provoca atraso porque os grandes players foram apanhados na Lava-Jato. É preciso tempo para haver reposição das empresas”, disse. Isso demanda decisão política e estabilidade. “A médio e longo prazos, no entanto, o cenário deve ser de melhora significativa, por conta do saneamento. Os custos de obras superfaturadas serão reduzidos. O Brasil vai ter de abrir espaço para empresas estrangeiras atuarem nesse setor, preferencialmente associadas com as brasileiras”, explicou.
Entranhas
Presente, na semana passada, em um seminário no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), sobre parcerias público-privadas, Porto teve a percepção de que o ambiente institucional será mais favorável pós-Lava-Jato. “Neste momento, a incerteza está no ar, nos próximos um, dois anos, a convicção dominante é de que o cenário será positivo depois disso”, destacou.
No entender do economista Gilson Garófalo, professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP) e da PUC-SP, a corrupção está entranhada nas obras de infraestrutura porque há conluio ou acordos entre os eventuais interessados em levar o empreendimento adiante já na fase de licitação ou concorrência. “É um aspecto negativo que não dá para controlar. Depois disso, o vencedor entra com pedido de atualização de valores, os tais aditivos, que geram sobrepreço. O excedente nem vai para a obra, vai ajudar em candidaturas de políticos”, ressaltou. Aos atrasos provocados para fazer caixa 2, alertou Garófalo, somam-se questões ambientais e demoras naturais do processo de obras complexas.
Os exemplos se multiplicam no Brasil. A Usina Termonuclear Angra 3, a Hidrelétrica Belo Monte e a Ferrovia Norte-Sul são três obras faraônicas que engoliram bilhões, sempre mais do que o dobro do orçamento, e que ainda não ficaram prontas.