Para entender quais são os principais gargalos que prefeitos podem encontrar no início e ao longo de suas gestões e como administrá-los, conversamos com o Diretor da Macroplan, Glaucio Neves.
Glaucio, na sua opinião, quatro anos é tempo suficiente para um prefeito planejar e executar ações em busca de um mandato que vise deixar um bom legado para a população?
O tempo produtivo de um ciclo de gestão pública no Brasil, quando é possível planejar e implementar ações com certa normalidade, não dura exatamente 48 meses, mas sim 40 já que a agenda eleitoral na maioria das cidades brasileiras se inicia no final do terceiro ano de governo e passa a ocupar as agendas das principais lideranças já no primeiro mês do quarto ano. Para lidar com essa restrição, mais do que nunca, os governantes precisarão ter foco, disciplina e agir com planejamento para fazer as escolhas acertadas e implementá-las com competência.
Diante do perfil de políticos brasileiros você considera essa uma tarefa simples?
Não. Esse é um desafio pouco afeito ao perfil político predominante no Brasil, que tende a pulverizar ações com viés populista, ao imediatismo, à improvisação e ao micro gerenciamento das ações e recursos.
Dentro deste contexto de restrições crescentes e de necessidade de incutir senso de urgência para acelerar a execução, quais são os fatores-críticos que os gestores públicos devem ficar atentos então?
A resposta a esta pergunta remete a uma agenda, interconectada, com oito itens que foram colecionados pela Macroplan em mais de 15 anos ajudando gestores públicos a planejar estratégias e implementar projetos de sucesso pelo Brasil a fora. São eles: usar bem o tempo para tomar boas decisões; fazer escolhas com visão estratégica; promover e incentivar a inovação na gestão; mobilizar recursos e inteligência de parceiros externos; identificar e alocar os melhores talentos gerenciais as prioridades estratégicas; adotar métodos de monitoramento e avaliação de resultados; envolver-se e liderar de corpo e alma a geração de resultados; e dialogar, dar visibilidade aos avanços e administrar as expectativas da sociedade.
Desta lista, você considera que “usar bem o tempo para tomar boas decisões” é primeiro fator crítico com o qual um gestor se depara em seu mandato?
Sim. Logo nos primeiros meses de governo pode determinar ou não o sucesso de uma gestão. O capital político de um governante costuma se esvair rapidamente caso ele não mostre logo de partida energia e ações concretas que gerem “pequenas conquistas” de curto prazo.
Quais fatores podem interferir nessa durabilidade?
A baixa tolerância com a política tradicional, somada a maciça conectividade da população, pode fazer com que esse tempo dure poucos meses ou até semanas caso o governante demore a agir. Não se deve esperar o cronograma formal dos ciclos de planejamento ou a aprovação de mudanças no orçamento para começar a implantar ações.
Nesse contexto de fatores críticos, qual a relevância de fazer escolhas com visão estratégica?
Em estudo recente da Macroplan com as 100 maiores cidades do Brasil, constatou-se que somente 15% das cidades pesquisadas possuem plano estratégico com horizonte superior ou igual a uma década. Os governantes precisam ter clareza que não será possível fazer tudo o que se deseja ao mesmo tempo no período de um mandato, portanto, será preciso escolher de maneira criteriosa as prioridades, em especial aquelas com maior impacto ou capacidade de alavancagem dos principais resultados almejados.
Então para onde deve se voltar o olhar desse gestor nesses momentos de decisão?
Fazer escolhas também significa, sobretudo, “desapegar” de práticas e projetos com baixo potencial de geração de resultados. Para isso, é preciso adotar critérios estratégicos que correlacionem custos com benefícios para a população e, principalmente, saber claro para onde conduzir as ações no médio e longo prazos.
Considerando o cenário político e social atual, por que é necessário inovar nas tomadas de decisão?
É primordial buscar formas de execução diferentes das usuais e para isso promover e incentivar a inovação na gestão pública é essencial. A componente estratégica que orienta as ações deve induzir a adoção de formas inovadoras para a solução de problemas. Os gestores públicos atuais estão diante de um grande desafio: escassez estrutural de recursos financeiros, com uma sociedade cada vez mais exigente e vigilante. Fazer mais do mesmo não resolve e fazer menos do mesmo é “suicídio político”.
Mas de que forma essa inovação pode acontecer?
Inovar na gestão não significa criar algo totalmente novo a todo momento ou ganhar o ?prêmio de originalidade?, mas buscar formas alternativas de entregar mais valor com menos recursos e isso pode ser obtido com tecnologia da informação, com revisão de processos, com parcerias externas e com desenho de soluções que desafiem o status quo.
Voltar o olhar “para fora” pode ser uma saída interessante durante essa busca por lidar com os fatores críticos da gestão?
Mobilizar recursos e inteligência de parceiros externos é um pressuposto para uma boa gestão nos novos tempos. A carteira de prioridades da gestão deve ser capaz de mobilizar os melhores recursos no Brasil e no exterior. Cada vez mais a administração pública será um “hub de serviços” prestados à população por diversas formas, meios e naturezas jurídicas.
Qual o principal ganho a partir da adoção dessa estratégia?
O principal ganho é, sem dúvidas, a melhoria da qualidade de vida da população. Este desafio é bastante facilitado quando existe a concentração de atores públicos e não públicos em torno de objetivos comuns.
Assumindo que as “escolhas certas” tenham sido feitas pelo gestor até aqui, com qual fator crítico esses gestores podem se deparar?
Bom, feitas as escolhas certas e assegurados os recursos, é necessário alocar os melhores talentos gerenciais disponíveis para liderar as ações prioritárias. Estes talentos, na maioria das vezes, encontram-se na própria estrutura dos governos e precisam ser motivados e instrumentalizados para assumirem novos desafios. Para obterem boa performance devem ser empoderados e disporem de condições adequadas para exercerem suas funções. Além disso, precisam ter acesso direto às principais lideranças para evitar obstáculos burocráticos no fluxo decisório, que precisa ser ágil e resolutivo.
Retomando aquela lista, em que consiste o sexto fator crítico que você enumerou?
O sexto fator crítico é a adoção de métodos de monitoramento e avaliação de resultados que correlacionem as entregas físicas aos resultados e sinalize, em tempo real, os problemas de percurso no caminho do alcance dos resultados. Gestores empreendedores, juntamente com um sistema de informações gerenciais de fácil utilização que facilite a comunicação e dê visibilidade aos progressos e restrições contribuem, sobremaneira, para a disciplina de execução estratégica.
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